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Impressão Digital Reduz Despesas

Valor Econômico - 12/06/2002 - João Luis Rosa e Rosi Rico - Uma análise atenta mostrou aos editores da Mundo Cristão, que publica livros religiosos, de negócios e filosofia, que 180 títulos fora de catálogo continuavam a ter procura, embora em quantidade insuficiente para pagar as despesas - principalmente de estoque - e gerar lucro.

A saída para ressuscitar as obras foi a tecnologia digital e o conceito de impressão sob demanda. Com a ajuda de novas máquinas que reproduzem arquivos digitais, a editora poderá imprimir um único volume com preço apenas 15% superior ao de um livro feito no método tradicional.

Embora não seja novidade, o sistema tem trazido resultados cada vez mais positivos a editoras que trabalham com tiragens limitadas para públicos específicos.
É o caso da Edusc, da Universidade Sagrado Coração, em Bauru (SP). Totalmente baseada no sistema digital, a editora universitária criada em 1996 conseguiu formar um catálogo de 400 títulos, que pode chegar a 470 até Dezembro.

A editora usa duas máquinas de impressão, mas o movimento tem crescido tanto que a empresa já negocia a ocupação de uma terceira. O sistema digital é a única forma de uma editora universitária não quebrar, diz Luiz Eugênio Vescio, editor da Edusc.

Na Mundo Cristão, a expectativa fez com que a empresa decidisse lançar um selo exclusivo, o MC Express, para vender os livros sob medida. O grau de personalização permite ao leitor ter seu nome, dedicatória ou outra coisa do tipo impressa na capa.

Com o novo selo, o catálogo sobe para 430 títulos. A previsão é vender, em um ano, de 8 a 10 mil cópias adicionais por mês, um número expressivo para a editora, cujo movimento é de cerca de 500 mil cópias vendidas por ano.

A lógica do negócio é reduzir gastos. O primeiro e mais importante é o custo, altíssimo, de manter estoques. O outro ponto é a eliminação de um dos elos da cadeia do livro: o distribuidor. Pelo MC Express, a Mundo Cristão vai entregar diretamente nas livrarias e vender via internet ou telefone. Em média, o desconto feito ao longo da cadeia é de 48%, diz Claudinei Franzini, gerente de marketing e vendas da editora. Sem o distribuidor, cai para 30%.

Além disso, o modelo reduz o risco das editoras. Em vez de gastar em títulos cujo poder de atração pode estar esgotado, as empresas direcionam os esforços para títulos novos.

Na Edusc, a impressão digital sob demanda permitiu ganhar consistência financeira em curto espaço de tempo. A receita, de R$ 770 mil em 2001, pode chegar a R$ 1,2 milhão este ano. É o suficiente para garantir a subsistência com a venda dos livros, sem financiamentos adicionais, diz Vescio.

Veterana no modelo, a editora Scortecci já publicou 4,5 mil títulos em 20 anos.

Parte disso é referente a livros para empresas ou universidades. Uma escola informa, por exemplo, que precisará de mil livros em dois anos, mas não de uma vez. Para reduzir custos, as capas são produzidas numa única etapa, mas o miolo é impresso à medida da necessidade.

Outro caso é o das tiragens pequenas, feitas e consumidas de uma só vez. Tratam-se de livros de autores novos, em geral financiadas pelos próprios.

Para esse segmento, a Scortecci criou um curioso método estatístico. "Avaliamos cinco pontos, como família, escola e ambiente de trabalho do autor para calcular a tiragem potencial", diz o editor João Scortecci.

O resultado é surpreendente. Segundo ele, cada pessoa conhece, em média, outras 372. Se ela participa de um clube, frequenta uma igreja ou trabalha numa grande multinacional, esse número sobe para até 700 conhecidos.

Entre as grandes editoras, que trabalham com escala, o método tem as vantagens reconhecidas, mas não costuma ser usado. Na Saraiva, o meio encontrado para fazer frente à demanda por títulos de circulação restrita foi outro: a adoção do livro eletrônico.

A companhia tem 18 títulos, todos jurídicos, disponíveis na internet. O leitor pode transferir o livro pela rede e imprimí-lo ou ler a obra na tela de um computador, inclusive de mão, informa Wander Soares, diretor de marketing da Editora Saraiva.

Fora das editoras, a impressão digital sob demanda começa a provocar uma nova disputa de mercado: a dos fabricantes dos equipamentos. Durante muito tempo, a Xerox dominou o segmento sozinha. Isso acabou. Além da alemã Heidelberg, que trouxe suas primeiras máquinas no fim do ano passado e prepara lançamentos para setembro, a gigante americana IBM também decidiu entrar na competição.

Disputa fica mais acirrada na oferta de máquinas

Na Heidelberg, a estratégia é aproveitar a força da marca no segmento de impressão gráfica, do qual é uma das líderes, para vender os equipamentos digitais. A companhia já vendeu, no país, nove unidades de seu equipamento para impressão em uma cor só. A novidade será a máquina para impressão em cores, criada por uma joint venture com a Kodak.

Os negócios envolvem valores altos. Uma máquina em preto e branco da Heidelberg custa cerca de US$ 198 mil nos EUA. A colorida pode chegar a US$ 420 mil. Por isso mesmo, muitas editoras preferem o sistema de aluguel, caso da Editora da Universidade do Sagrado Coração (Edusc).

A Mundo Cristão fechou um acordo com a Imagix, que tem nesse tipo de impressão um de seus principais negócios. Além de livros, a Imagix usa o sistema para produzir extratos, boletos, programas de fidelidade etc. No caso dos livros, a empresa tem interesse em contratos com outras editoras, diz seu proprietário, Jurg Muller. Por enquanto, a Imagix é o maior cliente da Heidelberg no país, com quatro das nove máquinas vendidas pela alemã.

Para crescer, a Heidelberg oferece financiamento próprio para a compra do equipamento. Já a IBM aposta no pagamento pelo uso da máquina, baseado no número de páginas impressas. O volume de consultas tem aumentado de 10% a 15% no país desde agosto do ano passado, quando iniciamos o serviço para o segmento de livros, diz Antonio Eduardo Bruno, gerente para área de impressão.

No caso da Xerox, a orientação é substituir o sistema de aluguel pela venda do equipamento, diz Marcos Alves de Oliveira, gerente de marketing. Além disso, a empresa transferiu a concessão do financiamento para agentes financeiros.

O editor João Scortecci, da editora de mesmo nome, vê uma evolução crescente na tecnologia. Originalmente, o sistema de impressão era a calor, o que deformava as páginas. Agora à tinta, as máquinas melhoraram muito, diz.

Mesmo assim, o acabamento ainda é um desafio. A Edusc comprou máquinas de costura para substituir a cola, usada nessas máquinas, e fechou acordo com a Ripasa para produção de papel específico.

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