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Para Deixar de Existir

A Rebra, Rede de Escritoras Brasileiras, é uma associação que abriga os sonhos de 3030 escritoras de nosso País.

Prestando serviços que objetivam alargar as oportunidades para esse nicho social, e com nove anos de existência, a entidade tem conseguido resultados memoráveis por meio de parcerias criativas. Mesmo assim, mulheres escritoras enfrentam preconceitos. Isso não somente no Brasil, mas no mundo. Prova é o Nobel de Literatura.

O Prêmio Nobel de Literatura foi instituído em 1901. De lá para cá foram 106 distribuições dessa alta recompensa para escritores que, com sua arte, estimularam as asas da humanidade. Em 1914, devido ao início da Primeira Guerra, o prêmio não foi concedido. Fora isso, o evento não teve outra interrupção. E, das 106 premiações, apenas 11 foram parar em mãos femininas, contra 95 em mãos masculinas.

Isso quer dizer que há uma clara desigualdade entre a maneira como a sociedade global vem tratando o talento feminino. Sonegando recompensas às excelentes escritoras e premiando os excelentes escritores generosamente, embora, teoricamente, elas sejam metade do contingente populacional desse mundo. E embora, teoricamente, elas sejam tão capazes quanto eles. Aqui, a desigualdade numérica é tão discrepante que sequer é permitido achar que se trata de mera coincidência. Não pode ser acaso. É proposital. É preconceitual.

As onze escritoras laureadas pelo Nobel são: Doris Lessin, Inglaterra (2007); Elfriede Jelinek, Áustria (2004); Wislawa Szymborska, Polonia (1996); Toni Morrison, Estados Unidos (1993); Nadine Gordimer, África Do Sul (1991); Nelly Sachs, Alemanha, (divide com Shmuel Yosef Agnon, Israel, em 1966); Gabriela Mistral, Chile (1945); Pearl S. Buck, Estados Unidos (1938); Sigrid Undset, Noruega(1928); Grazia Deledda, Itália (1926); Selma Lagerlöf, Suécia (1909) .

É urgente aproximar esses números. E porque precisamos melhorar esse escore foi fundada, em 8 de março de 1999, a Rebra - Rede de Escritoras Brasileiras, que nesse ano de 2008 fecha um ciclo mágico de nove anos. Nossa missão já está consolidada. Nosso objetivo é claro.

Oportunidades

Nossa missão, como está registrado nos nossos estatutos, é, especificamente, alargar as oportunidades oferecidas às escritoras brasileiras e, assim, trazer para a sociedade em que vivemos uma digna moldura de igualdade; permitindo, desse modo, o florescimento e o usufruto dos melhores talentos literários, sejam vindos de cérebros masculinos ou femininos. Tanto faz. Consideramos que nesse período de existência a Rebra tem conseguido, palmo a palmo, cumprir seus propósitos. Com pequenas atitudes, partimos de 10 associadas em 1999 para 2900 em março de 2008. Isso nos referenda.

Nosso objetivo é deixar de existir. Desaparecer da cena presente e passar para a História do Brasil e do mundo. Que no futuro se diga: a Rebra foi uma ação provisória que existiu no passado, cuja missão era equiparar as oportunidades das escritoras às dos escritores, porque havia uma injusta distribuição de respeito.

Dizendo diferente: no dia em que as atividades da Rebra não forem mais necessárias, nossa existência não terá mais sentido. Nossa atuação dará então lugar à nossa memória. Restando nos sentirmos vitoriosas, com a certeza da tarefa bem desempenhada. E nunca mais poderemos afirmar que mulher, quando ganha, empata. Talvez tenhamos outros problemas gerados pelo andar do tempo. Não mais esse.

Nova coletânea

A Rebra, mais uma vez, apresenta ao público cearense uma primorosa coletânea de textos de autoria de um grupo de associadas. “O Talento Brasileiro emProsa e Verso” (lançada na última quarta-feira). Dessa vez, são 71 autoras, entre elas as cearenses Beatriz Alcântara, Eliane Arruda, Joyce Cavalccante, Lêda Maria Souto, Neide Maia, Nilze Costa e Silva, Olganira Mota e Tereza Porto. O prefácio é da professora Ana Mae Barbosa, associada.

Trata-se de um trabalho intencionalmente preparado, a partir do título, para ser mostrado dentro e (pela primeira vez) fora do país, iniciando assim uma época de maiores conquistas, sonhos e pretensões de extrapolar as fronteiras nacionais, coisas da globalização tão necessária às mentes e aos corações dessas artistas. E, principalmente, extrapolar a barreira de gênero. Aliás, cada dia está mais difícil saber quem não é associada à Rebra, tamanho o nível de adesão das mulheres em torno desse ideal.

Fonte: Diário do Nordeste - Caderno 3, 22.06.2008. Por Joyce Cavalcante - a autora é presidente da Rede de Escritoras Brasileiras (Rebra).

(Foto: Fábio Lima).

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