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Impressão para poucos

Cresce o nicho de publicações impressas digitalmente, sob demanda. Qualidade e mais possibilidades de negócios são algumas das boas razões. Embora ainda não muito significativos em seus negócios, livros impressos digitalmente constituem uma área crescente e considerada nas estratégias de atuação das empresas do setor gráfico. Gráficas dos mais diversos portes já atuam nesse mercado e, por enquanto, são solicitadas principalmente por editoras em busca de tiragens muito reduzidas - às vezes com um único exemplar - e por autores interessados em bancar pessoalmente a produção de uma publicação. Mas essa tecnologia embute outras possibilidades de obtenção de receitas; entre elas, a customização dos conteúdos dos livros.

As editoras, por exemplo, podem reduzir sensivelmente suas perdas, caso aproveitem a impressão digital para a produção de tiragens menores, sugere João Scortecci, presidente do grupo editorial Scortecci de editora, gráfica e livraria. Segundo ele, ao trabalhar com tiragens superestimadas, as editoras brasileiras desperdiçam anualmente entre 30 e 40 milhões de exemplares de livros. "A cada cinco anos, perdem metade de aproximadamente 320 milhões de exemplares produzidos por elas a cada ano", enfatiza.

O self publishing - publicações custeadas pelos próprios autores - também é um nicho interessante. Na gráfica Ferrari, ele atende a 90% dos usuários desse serviço, diz o diretor Mário Ferrari Filho. Especializada em livros, a Ferrari oferece também a opção da impressão offset. E, embora a tecnologia digital esteja ali presente desde 1997, ela ainda gera apenas 10% dos negócios. Ferrari Filho explica que a participação não é mais significativa porque o custo da produção editorial ainda é alto para a maioria dos autores iniciantes.

Na Paper Express, a participação dos livros impressos digitalmente no total de negócios ainda é pequena.  Mas o diretor executivo Fabio Arruda Mortara prevê o crescimento do serviço. Não por acaso, a gráfica está investindo mais decididamente nesse nicho. "Há uma enorme demanda reprimida por pequenas tiragens de livros: títulos esgotados, autores iniciantes, guias de receitas, culto ao ego, pré-testes, bonecos, recordações, homenagens, presentes, entre outros gêneros de publicações", ele detalha. A empresa produz livros e também folhetos, manuais e catálogos, entre outros produtos.

Fundamentos numéricos

O potencial da demanda por tiragens menores é hoje explorado também por gráficas de grande porte. O Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas (Ibep), cuja impressão digital de livros era antes empregada apenas nos protótipos apresentados pela editora do mesmo grupo nas concorrências governamentais, desde a aquisição de uma segunda impressora, em meados do ano passado, ingressou na disputa desse mercado. "A impressão digital evoluiu em todos os sentidos: seus custos estão a cada dia mais acessíveis, e algumas tecnologias permitem uma qualidade já tão boa quanto aquela oferecida pelo processo offset", justifica Rodrigo Cancherini, responsável pela área de impressão digital da Ibep.  Segundo ele, por enquanto, a editora integrante do mesmo grupo empresarial ainda é o principal cliente da área de impressão digital de livros da Ibep. "Mas esse mercado é potencialmente muito interessante, especialmente no segmento das publicações em preto e branco produzidas sob demanda, que conseguem já um preço muito atrativo", especifica Cancherini.

A Ediouro, a partir do mês de novembro, passa a oferecer a impressão digital de livros em uma estrutura - composta por duas impressoras, uma guilhotina e uma máquina para acabamento -, especialmente montada para o ingresso nesse nicho. "Investimos aproximadamente US$ 800 mil nesses equipamentos", revela Mauro Melli, diretor de operações da Ediouro Gráfica. Na Ediouro, ele afirma, o foco será na impressão de tiragens compostas por um mínimo de 200 exemplares, e ao menos por enquanto não haverá exemplares produzidos individualmente, por demanda de consumidores individuais.
Assim, deve ser mantida a parceria entre a editora do grupo Ediouro e a gráfica Bandeirantes, na qual consumidores interessados em um único exemplar de título com estoque já esgotado podem solicitá-lo via web, e recebê-lo em versão impressa digitalmente (a Bandeirantes mantém parcerias similares com outras editoras, como Unesp, Gente e Companhia das Letras).

De acordo com Mário César de Camargo, presidente da gráfica Bandeirantes, a presença de sua empresa nesse mercado fundamenta-se em uma pesquisa, realizada em 2007, na qual foram coletadas informações de 18 editoras.  "Obtivemos dados interessantes: em média, nessas editoras, as reimpressões têm 1.250 exemplares; há 111 lançamentos por ano e os acervos trazem 1.176 títulos ativos e 629 inativos", revela. "Esses números justificam plenamente o uso da impressão digital", acrescenta Camargo, da Bandeirantes.
Esse ano, a impressão digital de livros gerará algo entre 12% e 13% do faturamento da Bandeirantes. E, como a evolução tecnológica permite a produção digital de tiragens com quantidades crescentes de exemplares, esse índice pode evoluir rapidamente: "Há dois anos, produzíamos livros com impressão digital em tiragens de até 500 exemplares; atualmente, temos títulos nos quais essa faixa sobe para mil. E, com os novos equipamentos, viabilizaremos a impressão digital para 2 mil exemplares", detalha Camargo.

Possibilidades e riscos

Juntamente com o desenvolvimento da tecnologia, a incessante busca das empresas por reduzir seus custos também deve favorecer a expansão da impressão digital de livros, pondera Melli, da Ediouro. "A digitalização permite reduzir custos de estoques, por exemplo", especifica. Camargo, da Bandeirantes, aposta, ainda, nos negócios gerados pelos "livros de oportunidade", que precisam ser viabilizados rapidamente para aproveitar um tema em voga em determinado momento (por exemplo, uma eleição ou um fato capaz de sensibilizar grandes contingentes de público). "Só a impressão digital pode responder rapidamente a essa demanda", afirma.
E Cancherini, da Ibep, percebe potencial no segmento dos livros personalizados. "Quando digo personalizado, não me refiro somente à capa, mas a todo o livro", enfatiza. Como exemplo, Cancherini projeta um livro infantil no qual o pequeno leitor será colocado como protagonista da história, por meio da inclusão, na trama, de seu nome, dos nomes de seus pais, ou de um esporte de sua preferência, entre outros dados pessoais.
Possibilidades como essa tornam a tecnologia digital atualmente capaz de "encantar" os usuários de livros, afirma Mortara, da Paper Express. Ele garante que praticamente não há mais diferenças de qualidade entre ela e os meios mais convencionais de impressão. "Hoje, quando recebem um título comprado na Amazon - maior operação mundial de venda de livros pela internet - muitos clientes nem imaginam que ele pode ter sido impresso com tecnologia digital", destaca o diretor.

Mas, como em qualquer atividade em rápida expansão, pode brevemente haver o risco de uma oferta de capacidade de produção muito superior à demanda, argumenta Scortecci. "Hoje são impressos digitalmente cerca de 8 milhões de livros por ano no país. Seis ou sete grandes máquinas podem dar conta dessa demanda em um mês, e estão chegando 30 ou 40 máquinas por mês", ele estima.

Satisfação personalizada

Graças à parceria com a gráfica Bandeirantes, a Editora Unesp, da Universidade Estadual de São Paulo, permite ao consumidor em busca de um livro, cujo estoque está esgotado, receber um exemplar impresso digitalmente. Para Jézio Gutierre, editor executivo, além de reduzir custos, a impressão digital sob demanda tem outra vantagem: "Ela ajuda a fidelizar os consumidores".  Por enquanto, a solicitação de livros da Editora Unesp impressos sob demanda ainda é pequena. Soma cerca de 50 exemplares por mês, diz Gutierre. "Mas o número cresce mensalmente."

Crescerá ainda mais o emprego da tecnologia digital na impressão de livros, prevê Lucia Dal Medico, diretora de gestão de negócios da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp). "Cairá o custo dessa impressão", justifica. Graças à tecnologia digital, já foi possível eliminar a informação "esgotado" do catálogo da editora Imesp - antes referente a títulos sem exemplares em estoque. "Tudo pode ser negociado, mesmo uma tiragem pequena para uma livraria, ou um único exemplar para um leitor", conclui.

Fonte: Revista Negócios da Comunicação. Ano V, número 30, 2008. Por Antonio Carlos Santomauro.

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