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CARTA DE SUICÍDIO / Leide Pontes

O Guardador de Pintado
No sertão, três dias enchuvarado?
Eu nunca tinha presenciado.
Procurei o bicho por todo canto, no terreno encharcado.
E no meio do pasto alagado,
Um carneiro boiado.
Teria morrido afogado?
Não! Morreu engasgado,
Engasgado com capim triturado.
Calculei que teria comido um bocado
Para morrer assim, entalado.
Bucho estufado, olhos esbugalhados, mocotó esticado
Já estava podre, o desgraçado.
Carecia ser logo enterrado,
Pois no alto, um carniceiro voava alvoraçado,
Pelo corpo que espalhava olor, já bem acentuado.
Mas o cadáver pra fora d´água foi tirado,
E numa cova larga depositado,
Deixando o catartídeo enjuriado.
Em apenas três dias de casa afastado,
Sendo que tinha aos meus cuidados ficado,
Como explicar ao dono de Pintado,
Que ele estava morto e sepultado?
Por certo, eu seria o culpado.
Chegou e foi logo perguntando, o danado:
– Cadê meu carneiro premiado?
Eu era só um menino, não podia ser responsabilizado
Tremoso e encabulado,
Apenas apontei a cova, com o cajado.
Virei as costas, dando o assunto por encerrado

Leide Pontes
nasceu em Rolim de Moura, Vale do Rio Guaporé, Rondônia, em 1957. Pedagoga, ministrou aulas de Matemática para  o ensino fundamental e médio durante vinte e sete anos, atualmente aposentada. Estreou no mundo literário em 1995 com o romance Dez Anos de Paixão. Publicou os Contos Porta retratos; O Inventor e O Bravo, participou da Antologia Uma Odisseia, 2001, todos pela mesma editora. Pretende brevemente publicar mais um romance com o título: Uma Inocente Testemunha.

Serviço:

Carta de Suicídio
Leide Pontes
Scortecci Editora
Romace
ISBN 978-85-366-1485-4
Formato 14 X 21 cm - 96 páginas
1ª edição - 2009

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