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PALAVRAS SOLTAS / Rodrigo Mendes Rosa

A poesia de Rodrigo Rosa esconde na ironia a contradição do cotidiano numa espécie de intervenção de uma realidade, que surge como que acusando a pretensão de ordem e beleza de nossa civilização, como que incomodando e interrompendo a ordem estética.

A poética de Rosa é como um transeunte morador de rua que adentra uma festa de alta classe em uma capital qualquer desse país de contrastes. A diferença entre o olhar dos incomodados com aquela heresia do luxo e a do poeta em questão, é que este enxerga o Cristo encarnado e o assume em sua poesia na melhor forma que um brasileiro poderia entender: o lúdico.

Não o lúdico anestésico de quem se enriquece com a pobreza estrutural desse fornecedor de pau-brasil desde tempos memoriais, mas o lúdico que emerge do corinquietume faz uso do labor poético para que o leitor também se responsabilize nessa Terra de Santa Cruz, em que o Cristo pede, para no outro sair.

Em alguns momentos, esse lúdico é esquecido e pode-se transparecer a inquietação vivida e vívida do poeta, como quem cansou de chamar a atenção por meio das metáforas, e chama à conversa franca; aquela conversa “chata”, mas necessária, porque é vital para a existência dos outros, como quem se cansa de falar com adultos que insistem em ser infantis, vivendo a sua constante distração “onthefly”.

E, por isso mesmo, o eu lírico, em alguns momentos, dispensa a presença de outros, fala de si para si, como quem caminha na sua convicção, esteja amparado pelos companheiros ou não. A poesia não nasce da palavra, ela nasce da escuta, pois antes que o poeta fale da vida, a vida é que lhe fala, e para Rosa a palavra se-lhe-abre como aquela vida sofrida sim, mas que “apesar de” sabe cantar, dançar e rezar, que samba com os mesmos pés calejados do trajeto infindo e rotineiro de gente trabalhadora. Trajeto de paz e de guerra, dependendo da situação do “negócio” da classe média-alta com a favela.

Esse é o Brasil que se confidencia ao poeta: maravilhoso e horrendo, acolhedor e hostil, que amamos e detestamos, que hora reagimos, hora corroboramos. Rodrigo confessa suas influências, não teme usá-las, não pretende “ser grande”, mas tão somente “ser”, não dá ouvidos à ditadura acadêmica do original, mas sim ao mais íntimo que lhe clama: Vai, poetiza! Se assim pensasse o ser humano, a vida seria mais criativa, mais poética ainda que não fosse em poesia, mas o amado amaria sua mulher poeticamente, os pais seus filhos, os professores seus alunos... Deixaríamos que a vida nos chamasse a poesia e talvez enxergássemos o mundo dos místicos, de que na vida há mais coisas boas que ruins e porque assim é, é que devemos combater estas mesmas coisas ruins...

Diga lá o velho Chico de Assis, que vivendo com aqueles que estão no limite da indigência, sabia compor um “Cântico das Criaturas”, sem se perguntar se a retórica de Cícero ou Horácio o aprovaria. Não é por que Mario Quintana falou do amor, que Mário de Andrade não mais precisaria ou podia falar, ou ainda com os novos iria Drummond se incomodar. A poesia não pergunta à academia se “pode” ser assim, ela é, porque emerge da vida e aqui nasce o verdadeiro poeta, o que sabe escutar a pulsão de vida que se esconde e se revela na mesma vida!

A poesia pode trazer a face mais expressiva da realidade, para além de toda teoria econômica, política, social, antropológica, teológica... A face que nos faz sentir quem somos no drama de “ser” e “não ser”, para que mesmo aprendendo alçar voo nas asas de nossos ideais, saibamos sempre aterrissar no solo comum de nossa responsabilidade.

Não precisamos de heróis midiaticamente reconhecidos, mas de cidadãos que fazem do compromisso uma forma poética de viver, e por isso é que elogio a iniciativa de Rosa em Palavras Soltas, sem a pretensão de não ser além do que é, poeta de sua vida que solta sua palavra, que clama por essa mesma vida! Que cesse o exílio dos poetas!
São Paulo, 20 de maio de 2009.
Alex Villas Boas

Serviço:

Palavras Soltas
Rodrigo Mendes Rosa
Scortecci Editora
Literatura
ISBN 978-85-366-3668-9
Formato 14 x 21 cm 
44 páginas
1ª edição - 2014

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