A PEDRA E AS NUVENS / Henrique Ramos de Souza
A Alma e o Tempo
O Tempo de alma tão velha
Acorda sombras antigas.
Floresce no ser a dentro
A alegria de cantigas.
O Tempo de alma tão velha
Desmancha incertos segredos,
Como as águas em silêncio
Revelam-se em nossos dedos.
O Tempo de alma tão velha
Fecha botões de lembrança,
Abre a rosa que é sem termo
E faz nascer a bonança.
O Tempo de alma tão velha
Semeia as águas suaves,
Na cadência de ondas leves,
E vai na altura das aves.
No Tempo de alma tão velha
Minhas frases voarão?
Escutam os outros seres,
Chamados do coração?
O tempo e a Estrela
Tempo sem nome, de que estrela [vieste?
Tempo que passas sem palavra [exata,
Por que não mostras tua flor antiga,
E o teu caminho largo em que te [moves,
Nas rochas, águas, árvores, no giz.
Tempo que sabes a perpétua sombra
Das origens imensas e esquecidas,
Que tens o fôlego de um tal mistério
Guardando todo o rastro do existir.
Tempo, caminha, teu roteiro encanta
As imaginações, de ti desertas,
A mergulharem na procura humana.
Bom tempo, dá-me conhecer o ato
Do teu nascer e a tua história viva!
Universo
Sinto, a ouvir, intactos cantos
Das imaginações mais livres,
Ecos de pensamentos, tantos.
Escuto quando indaga a face,
Procurando sombras e origens
E alguém que as revele e que passe.
Eu percebo a pesada algema
Do mundo, recobrindo a sina,
Calando vidas, tão suprema.
A imensidade que flutua,
Como estrela no vento antigo,
Abre as linhas da água nua.
Dança, todo espírito, dança,
Neste espaço que se renova
Feito curiosa criança!
A multidão das almas vai,
Submersa em chagas e memórias,
Fios de alívio, o grande ai.
O gesto, a voz, o tempo lavra
E, em suas linhas alongadas
Diluída, vibra a palavra.
Serviço:
A Pedra e as Nuvens
Henrique Ramos de Souza
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-5097-5
Formato 14 x 21 cm
40 páginas
1ª edição - 2017