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MINHA INFÂNCIA EM JUAZEIRO / Dias de Cordel

Infância de criança pobre no Nordeste era igual para quase todos. Tudo a mesma coisa. Os brinquedos, quase sempre artesanais. Nada de luxo ou sofisticação. A escola era sempre distante e transporte, não havia de espécie alguma. Conheci uma professora que tinha um nome estranho, esquisito, incomum etc. Era Pergentina e havia concluído apenas e tão somente a 4ª série do curso primário. Mesmo assim, era professora. As crianças não acertavam a pronúncia correta e a chamavam de ‘fessora’ Prigentina. Era solteirona e mais ou menos encalhada. Sua aparência feiosa e seus modos deselegantes a fizeram continuar solteira. Ninguém teve a coragem de enfrentar a ‘fera’.

Por aí podemos ter uma ideia do fraco aprendizado da meninada. Nenhum garoto iria aprender algo mais com uma professora de graduação ou preparo muito aquém do que seria necessário pra ter reais condições de transmitir mais ou menos aquilo que era essencial para a molecada. Como aprender, desse jeito? Em função de todas as dificuldades e inconveniências, praticamente nada. Além do mais, com raras exceções, havia um desinteresse geral por parte dos pais que apostavam, sem dúvida, muito mais na lavoura e queriam que os garotos estivessem trabalhando a partir dos 7 anos, por causa da pobreza e expectativa das estiagens que eram infalíveis pelos menos a cada 3 anos. A prioridade era, com toda certeza, conseguir comida.

A partir daí, de pança cheia, tudo que viesse a mais seria lucro. Qualquer programa de melhoria de vida era sempre adiado para o ano vindouro, como assim falavam. Quase tudo ficava pra depois. Se a maioria dos pais agia dessa maneira, imaginem a folga que tinha toda aquela meninada e quase todos cresciam sem aprender praticamente nada que se relacionasse com a escola. Isso acontecia com os menos favorecidos, pois alguns sortudos eram mandados pelos pais para estudar noutra cidade com todas as dificuldades que nossa narrativa pretende, sem dúvida, mostrar. O futuro de quase todos aqueles garotos, não deveria ser muito melhor que o atual, presente e constatado por seus pais de acordo com a vivência e a rotina diária de todos eles que era a mais chata e enfadonha de que se tem notícia naquela região.

Eu ia pro curandeiro/Qualquer dia, de manhã,
Era um ‘doutor’ conselheiro/E de uma consciência sã
Sem dúvida eu fiquei curado/Pois esse ‘oculista achado’
Me fez sentir ser, seu fã.

Não explore minha ignorância

Explorar a ignorância
Pode ser muito legal
Mas comigo há discordância
Pois acho que cheira mal
Mesmo eu sendo ignorante
Não aceito que um farsante
Me trate como um boçal...

Será que alguém vai negar?
Quem manda é a hipocrisia
E a vaidade secular
Lhe faz ótima companhia
Junto à elite ‘endeusada’
Que é ‘tudo’ e não vale nada
Para o que fazer, devia...

Ninguém conserta esse mundo
Nem queremos fazer isso
Porque há tanto vagabundo
E alguém fazendo feitiço
Que posso eu aqui fazer?
Sem dúvida que é conviver
Porém jamais ser omisso.

Zé do Pavio II

Zé do Pavio, mulherengo
Só apostava em mulher
Podia ser um monstrengo
Mas fazia o que ela quer
Claro que era carismático
E usava seu senso prático
Além de um bicho, de pé...

Quem quiser ser mulherengo
Terá que ser sistemático
Saber usar bem o quengo
De modo assaz pragmático
E atafulhar a mulher
Com bicho grande e, de pé,
Sem reumatismo ciático.

Se a mulher empinar bem
Sem criar nenhum problema
Pode até ir mais além
De acordo com seu ‘sistema’
E se o bicho está de pé
Vai do jeito que ela quer
Conforme seu novo esquema.

A ‘perseguida’

A baleia deu um urro
Na barra do sinimbu
E vão me chamar de burro
Se eu não comer esse angu
Pode crer que não aguento
Vou querer esse ‘alimento’
Nem que faça um sururu.

Quando a Eva deu vontade
De comer a tal maçã
Foi só por curiosidade
Conforme essa estória vã,
Manteve, claro, a cobiça
Esqueceu-se da preguiça
E desceu no ‘tobogã’...

E ali mete a pata, o bico
Procurando o que comer
Macaco? Esse está no pico
Se alguma loira entender
Sua alegria incontida
Em busca da ‘perseguida’
Que a mulher não vai ceder.

Cante direito

Por favor ‘cante’ direito
Você tem que respeitar...
Pois ‘cantando’ desse jeito
Eu vou ter que revidar
Volte já pra sua escola
E segure essa calçola
Porque a saia, vai voar...

Cante com educação
Pra não esquentar o clima
Por favor preste atenção
E tenha mais autoestima
Porque eu vou sentar a pua
Deixando você na rua
Nu, e de bunda pra cima.

Um repentista educado
Deve ‘cantar’ com respeito
Meu martelo agalopado
Que é bem rimado e perfeito
Só que você, no momento,
Canta pior que um jumento
E com tudo que é defeito...

Mais 50 tons de cinza

Os melindrados se sentem
Várias vezes mais ‘feridos’
E quanto mais eles mentem
Mais se tornam convencidos
Que a maldita hipocrisia
É, sem dúvida, a estrela-guia
Pra serem, favorecidos...

Só que as mulheres estão,
Em qualquer que seja a idade,
Dominando a situação
Sem qualquer mediocridade
Do jeito que elas preferem
Se mais tons de cinza derem
Pra matar a iniquidade...

Basta dessa hipocrisia
Que prioriza a vaidade
Pondo os melindres em dia
Para haver mais castidade
Só que a mulher, como gosta,
Vai dando a sua resposta
Sem ter medo da verdade...

Serviço:

Minha Infância em Juazeiro
Dias de Cordel
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-5135-4
Formato 14 x 21 cm 
64 páginas
1ª edição - 2017

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