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TODAS AS PALAVRAS / Nilce Scortecci

BELEZA POÉTICA SEM EXALTAÇÃO - Embora a variedade temática, a poesia desta poeta é extremamente generosa. A saudade, a dor, a tristeza, a esperança, o apelo, a denúncia, a análise do que sente e do que vê, a evocação divina, o Amor – tudo aqui é de uma tranquilidade dadivosa e pacificadora que emociona. É que a autora, até nos poemas com sombras de aflição e revolta, nunca caminha para a ênfase, para a exaltação. Tudo segue serenamente, numa mansuetude que encanta. Porém, uma mansuetude enganosa porque, em subjacência, flui uma dor, um tanto nostálgica, que é menos pessimismo e mais constatação das precariedades da natureza humana. A poeta observa o mundo e as criaturas através de uma ótica tão pessoal que se vê, plenamente, que ela se vale constantemente do disfarce – inconsciente, é verdade – como arma poderosa para detonar o núcleo de verdades doídas de suas criações. Tomando-se ao acaso o poema Protesto, constata-se esta evidência:

Fale.
Não se cale.
Fale
O que quiser.
Fale
O que espera,
O que busca.

E logo a seguir, em Silêncio:

Minha alma
Assemelha-se à noite
Sossegada e calma.

Por ela ser assim, comportar-se assim, a ambivalência traz à tona a Paz e o Amor por um lado, e o inconformismo, quase apaziguador, por outro.

Fugir do caos
Que nos confunde,
Fugir das loucuras
Deste mundo
Que nos rouba
A paz do nosso espírito
É minha aspiração
Maior.
(Desejo)

Quer nos poemas longos, mais românticos e de tessitura muito lírica, quer nos pequenos, pontilhados de achados belíssimos, vemo-nos em frente de uma poeta sensível, de grande espiritualidade. Embora a presença de Deus seja um de seus apelos, a sua espiritualidade não se confunde com a Fé, no restrito campo religioso. O inverso é o mais certo: a Fé na remissão de todos os erros e de todas as desesperanças é que leva a força propulsora do espírito a alcançar tudo isto.

Liberdade espiritual
é o que devemos buscar.
(in Aspiração)

Estou parada no tempo...
Não sei se avanço,
Se recuo, se passo,
Se me conservo
No mesmo lugar.
(in Aridez)

A poesia de Nilce Scortecci é, por tais razões, igualmente plena de interrogações, que não são dúvidas aflitas, mas, ao revés – e isto é curiosíssimo –, vívidas pulsações de crença e esperança. A Fé referida. Se, por um lado, a sua poesia é algo sublimada, por outro (sempre a ambivalência), é denunciadora ao longo de tantas passagens e ao correr dos seus versos simples e humaníssimos. Sua expressão poética traz aquela puridade, que é a sua força original de versejar. Este é o grande mistério dos que lidam, com talento, este gênero literário dos deuses. É bem o caso desta poeta senhora de sua arte, cujos pontos de chegada, que são seus poemas, espelham pontos altos da moderna poesia brasileira.
Caio Porfírio Carneiro

Professora, advogada e escritora. Nasceu no dia 21 de junho de 1927, em Dois Córregos, interior de São Paulo, e faleceu em São Paulo, capital, aos 76 anos, no dia 24 de setembro de 2003. Foi casada com Luiz Gonzaga do Carmo Paula (1923-2007) e juntos tiveram os filhos Luiz Gonzaga (1950), José Henrique (1951), João Scortecci (1956) e Ana Cândida (1958). Todas as Palavras é uma coletânea in memoriam dos livros Sentimentos Idos e Vividos (1988), Magia da Palavra (1992) e Reinício (1995), todos pela Scortecci Editora.

Serviço:

Todas as Palavras
Nilce Scortecci

Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-65-5529-300-5
Formato 14 x 21 cm 
272 páginas
1ª edição - 2021

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