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A VIDA É / Celso Viáfora

Um dia quebrou o CD player lá de casa e passei a ouvir música no carro ou nas plataformas de streaming. Pouco depois, troquei o carro e já não havia modelo que viesse com leitor de CD. Produzi este livreto porque, ao passar a ouvir as músicas online, sinto imensa falta de informação (qual o autor? quem é o arranjador? quem arrebentou naquele solo?). Assim, se o CD é uma mídia morta – como preconizam sobretudo os mais contemporâneos –, decidi lançar não um disco, mas um encarte caprichado, com ficha técnica detalhada e letras (ah, que falta me faz quando não tenho as letras! Sinto como se ainda não tivesse ouvido o disco completamente). Já que seria um livreto, por que não acrescentar histórias sobre como e para que foram criados cada uma das canções e cada um dos arranjos, o que foi buscado com a escolha e o fraseado de cada instrumento, disponibilizar partituras para que os interessados possam tocá-la, apresentar os músicos? Em vez de comercializar as canções, deixá-las acessíveis a todos, disponibilizadas nas plataformas. E, aqui, oferecer conteúdo: toda e qualquer informação ou curiosidade sobre elas. Era o que iríamos fazer. Eis que no meio do caminho alguns amigos – sobretudo os mais detalhistas – me pediram que não deixasse de encartar o CD. Queriam ouvir o álbum sem o filtro e a intermitência das redes, com atenção e demora – a paixão pelo momento prazeroso de sorver a música no silêncio de casa, num som mais amplo, graves e agudos soando inteiros. Achei justo o pedido e incluí o CD. Novos tempos: deixo de lançar um CD com encarte para editar um livreto cujo encarte é o CD. Informação não falta. Nem som. Tá na mão. Espero que gostem.

Sempre busquei a ideia de meus discos, além da história individual de cada canção, apresentarem uma segunda história, aquela contada a partir da justaposição não aleatória das músicas numa ordem que, ao fim da audição, executa um roteiro e cria como que um filme sonoro. O conceito vem do tempo e do modo como fui acostumado a ouvir música. O vinil (completamente) e o CD (menos, mas ainda assim) nos obrigavam a acompanhar o disco do começo ao fim. O vinil porque, para trocar de música, era necessário ir até o toca-discos, erguer a agulha e ter a habilidade de recolocá-la na faixa que se queria ouvir. Era, portanto, mais cômodo ouvir tudo e esperar por ela e, nesse percurso, acabávamos descobrindo nas outras canções belezas que, antes, despercebemos e, no todo da obra, um sentido mais amplo construído através da história contada pela ordem como as músicas foram dispostas no LP. O CD porque, embora podendo trocar de faixa, não era possível trocar de artista, senão tendo que ir até o player para efetuar a substituição. Assim, era igualmente mais cômodo seguir ouvindo o mesmo artista e, por consequência, ouvia-se o disco inteiro. Hoje o streaming mudou tudo isso. Ouve-se fortuitamente a quem se quer, quando e na ordem que se queira, de modo que muito poucas pessoas ainda seguem ouvindo um disco de cabo a rabo. Então por que insisto em procurar criar um roteiro nos meus álbuns? Não sei ao certo. Talvez porque tenha sido assim que aprendi a ouvir música ou talvez porque o álbum contar uma segunda história, quando ouvido na sequência proposta pelo artista, não prejudica a audição descontínua. É apenas uma outra forma, uma segunda experiência contida, sem custo, num mesmo produto. A quem puder, sugiro que o faça, nem que seja uma única vez. São 47 minutos. Muito para os dias atuais, concordo, mas se comparado a um filme que tem duas horas ou, mais ainda, a uma série cujas temporadas têm, cada uma, quatro ou cinco, fica menos impossível. Uma série: taí! Talvez sejam elas o melhor exemplo: ouvir uma canção isoladamente é semelhante a assistir apenas um episódio. Ouvir o disco todo, a temporada completa.

Serviço:

A Vida É
Celso Viáfora
Scortecci Editora
Música
ISBN 978-65-5529-322-7
Formato 14 x 21 cm
92 páginas
1ª edição - 2021

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