GURUPÁ E POEMAS DO VENTO / Júlio Cesar
O poema é imatematicável. A linguagem da poesia é anticategorial. Escrever poemas é o que não se pode esperar de um homem de cérebro algébrico, como eu. Mas o imponderável é portador da peculiaridade de brotar onde menos se espera, como uma nascente na pedra. Nestes cento e quatro poemas estão as palavras enrugadas e gastas que recolhi pelo chão da vida. Palavras que a vida me atirou na testa.
Com o tempo fui percebendo que a questão não é simplesmente me expressar, é ouvir o que as palavras têm a dizer, ser surpreendido por elas, sentir o perfume delas, afagá-las, manuseá-las, deixar que elas fecundem os versos. A fruição da poesia nascendo do improvável: um homem saltando no trilho do trem, água escorrendo das nuvens. Tentei dourar palavras na gordura fervente, com cebola, alho, tomate. Me deliciei com o cheiro do refogado, o que não garante a qualidade do prato, mas recompensa com alguma vantagem. Para mim, este livro é um passarinho, um tico-tico que canta de manhã e à noite, quando o ser escurece ou transborda. O desafio é descobrir se este canto ressoa em outros ouvidos. O tempo e a publicação responderão.
O autor
Atrás da borboleta
vai uma garotinha
pisando a grama,
descalça.
Corre e sorri
com dentinhos brancos,
de leite.
Eu:
quarenta anos
um pouco menos
pouco importa
palmeirense
latino-americano
trabalhador
socialista
ateu
é o que importa.
Serviço:
Gurupá e Poemas do Vento
Júlio Cesar
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-2401-3
Formato 14 x 21 cm
136 páginas
1ª edição - 2011
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