A PAIXÃO DE LOUIS BURNIER / Luciano Marinho
O romance A Paixão de Louis Burnier do escritor recifense Luciano Marinho aborda o tema do homossexualismo masculino com respeito e sensibilidade. No âmbito da ficção, o romancista defende a tese de que as relações homoafetivas se iniciam por um viés circunstancial e se estabelecem por condicionamento. Não se negam razões genéticas, formações edipianas, predisposições arquetípicas que, porventura, justifiquem a sua origem. Enfatiza-se, aqui, uma etiogênese mais comportamentalista do que biopsicológica. O escritor, também psicólogo, reconhece a possibilidade de existir um amor verdadeiro entre pessoas do mesmo sexo. O leitor desta obra, ao menos, não será homofóbico.
Enquanto a imprensa noticiou, no âmbito do Congresso Nacional, as novas diretrizes sobre a questão de casamento entre pessoas do mesmo sexo e aprovação da possibilidade da “cura gay”, e o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América se manifestou favorável ao assunto, o escritor Luciano Marinho descreve em seu romance a trajetória da vida intensa e trágica, carregada de conflitos e preconceitos do seu talentoso arquiteto Louis Burnier, principal personagem do livro.
As sociedades ocidentais, de forte influência cristã, há muitos séculos, têm estigmatizado os portadores de “problemas” de identidade sexual. O “malleos maletificarum” (martelo das bruxas), de autoria de dois frades dominicanos do século XV, serviu de documento básico para a condenação dos homossexuais aos Tribunais da Inquisição na Idade Média e no início da Moderna. Presentemente, fala-se em opção sexual, quando na realidade estamos diante de uma imposição da natureza, como se expressou o ilustre professor Othon Bastos, em seu artigo publicado no Diário de Pernambuco, no dia 24 de maio de 2013. Muito bem escrito, o romance de Luciano Marinho revela com profundidade os conflitos que se passam nos meandros do inconsciente do personagem, que se manifesta egodistônico, isto é, que implica a não aceitação da própria condição homossexual.
Pressionado pela sociedade, apresenta-se como homem masculinizado, embora refinado e muito educado; sendo, inclusive, objeto de atração de pessoas do sexo feminino. O que lhe deixa muito ansioso, depressivo, perplexo. Todavia, não esconde de si o seu grande amor pelo primo explorador, que se aproveita para extorquir-lhe dinheiro; tendo sido, a propósito, seu primeiro parceiro, afeminando-o desde sua iniciação sexual. A Paixão de Louis de Burnier revela uma personagem curiosa numa trajetória surpreendente de vida. Assim, o recomendo aos leitores inteligentes.
Margarido Múcio-Souto é médico psiquiatra, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria e pós-graduado pela Universidade de Leeds, na Inglaterra.
Serviço:
A Paixão de Louis Burnier
Luciano Marinho
Scortecci Editora
Romance
ISBN 978-85-366-3090-8
Formato 14 x 21 cm
136 páginas
1ª edição - 2013
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