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O TEU QUE É MAIS AZUL / Eloésio Paulo


A preciosidade do poema de Eloésio está no fato de ironizar, sarcasticamente, o aprendizado durante a catequese, destituindo assim, mais uma vez, o lugar da palavra verdadeira, recebida como dogma, e instituindo sub-repticiamente uma tensão intranquila, já que, no exato momento de iniciação do sujeito menino na cultura católica, o inferno em relação ao céu apresenta-se “mais próximo e palpável”. (...) O humor fermentado com ironia é recurso utilizado, talvez, como um dos principais elementos articuladores do caráter crítico do corpo desta poética, imantando os poemas de potência provocativa em que o riso irônico ajuda a explorar e descobrir um ponto de vista diferente, como em “A morte de Maria Rita”, “Tudo mudava quando/ um qualquer desafiava/ o momento de mau humor das águas”, ao vestir-se com a más-cara feminina, em “A primeira vez”, “Queria que eu fosse um violão/ mas nem tinha ouvido falar/ de espeleologia”, e no riso inevitável provocado pelo deboche em “Para maior glória da besta”, “As freiras sim continuavam feias/ e castas a despeito das más línguas/ suas orações ecoando/ num penhasco e se perdendo”. 
(Samuel Rezende)

PARA MAIOR GLÓRIA DA BESTA

Uns poetas tagarelavam dias sem parar
em estações de metrô ou no escuro
de um celeiro pré-moderno
(mas nenhuma rês ouvia nada
todos os olhos se ocupavam
com mulheres seminuas nos altares
e palhaços conduzindo baratinho à Vida Eterna)
As freiras sim continuavam feias
e castas a despeito das más línguas
suas orações ecoando
num penhasco e se perdendo
Apenas alguns ateus muito convictos
percebiam como a Besta ia comprando
na baixa os orfanatos
e encomendando a lotes uma liturgia
destinada a demonstrar o amadorismo
de todas as tiranias que não deram certo

Eloésio Paulo nasceu em Areado (MG) no ano de 1965. Trabalhou como jornalista e professor de cursos pré-vestibulares e colégios, e desde 2006 é professor da Uni-versidade Federal de Alfenas. Além de poesia, ficção e ensaio, escreve literatura para crianças, tendo tido seu livro Parque de impressões (Du-bolsinho, 2010) selecionado para o PNBE/MEC. Publicou as seguintes coletâneas de poemas: Canguru – Ontologia poética (1990), Primeiras palavras do mamute degelado (2000), Cogumelos do mais ou menos (2005), Inferno de bolso etc. (2008), Jornal para eremitas (2012), Homo hereticus (2013) e Deuses em desuso (2016).

Serviço:

O Teu Que é Mais Azul
Poemas
Eloésio Paulo
Scortecci Editora 
Poesia
ISBN 978-85-366-5829-2
Formato 14 x 21 cm
108 páginas
1ª edição - 2019
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