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O VELHO, NOVO E SEM TEMPO / Luiz Andrade (Org.)


O Teatro Amazonas, o Encontro das Águas e o tambaqui todos conhecemos, mas quem olha Manaus com cuidado sabe que é uma cidade muito mais complexa do que se vê na superfície. A noite cai, e sua escuridão revela um lugar diferente, pulsante, cheio de segredos, de maravilhas sombrias. Suas ruas se transformam em labirintos nos quais tudo pode acontecer, e a alma humana, em sua face mais obscura, é protagonista de episódios inquietantes. O velho, novo e sem tempo nos arrasta a um desses labirintos, que nos levam, por exemplo, aos delírios de um assassino, aos sonhos vivos de uma criança e aos medos noturnos de uma jovem que sabe nunca estar sozinha. Em suas curvas, vemos essa Manaus que só se revela no escuro, nos lugares proibidos, nas horas em que ninguém deveria estar acordado. Não é uma Manaus para qualquer um, e certamente não é para os que carecem de coragem. Espero que você não seja um deles.

O Realismo Fantástico, gênero latino-americano por natureza surgido como uma resposta à literatura fantástica europeia, nos deu alguns de nossos maiores autores como: Jorge Luis Borges, Dias Gomes, Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Adolfo Bioy Casares. O estilo literário leva o leitor por uma viagem a mundos dentre outros mundos, onde os mais inusitados acontecimentos permeiam a vida cotidiana e de forma cotidiana são tratados. O gênero foi mais explorado por autores de língua espanhola e não foi tão influente entre autores brasileiros, apesar de ter um grande público consumidor. No Amazonas, autores como Márcio Souza flertaram com o Realismo Fantástico em sua obra.

O velho, novo e sem tempo é uma obra que promete mostrar ao público amazonense a importância do gênero entre os novos autores que participaram de sua concepção. Nesta coletânea somos levados a conhecer fragmentos de nossa realidade, muitas vezes árida e maçante, num mundo fantástico cheio de possibilidades, apesar de muitas vezes não agradáveis. Esses jovens artistas dosam cores, luz e sombra, em cenários que aprofundam o nosso olhar sobre nossa realidade e atiçam nossa imaginação corroída pela rotina do dia a dia e de trabalho, por nossa acomodação com ruas esburacadas, nossos displays de smartphones que só mostram os horrores que nossa humanidade é capaz de produzir.

Uma última característica do Realismo Fantástico é que o gênero teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Muitos críticos veem isso como um reflexo dos trabalhos desses autores ao quadro político, econômico e social em que ditaduras militares tomam o poder em quase todos os países da região. Assim, os eventos fantásticos nas obras são uma forma de esquivar a censura da época. Em nosso atual contexto de risco de perda da nossa democracia, a obra não poderia vir em melhor hora.
Evaldo Vasconcelos
Roteirista e produtor cultural

Serviço:

O Velho, Novo e Sem Tempo
Luiz Andrade (Org.)
Scortecci Editora 
Contos
ISBN 978-85-366-5897-1
Formato 14 x 21 cm
100 páginas
1ª edição - 2019
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