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FASCINAÇÃO / João Abujamra

Tenho a mais firme certeza de que ele poderia e deveria lançar um livro com seus discursos. Teríamos então o privilégio de poder ter ao nosso alcance a mais deliciosa aula de geografia, humanidade, solidariedade e cidadania que jamais tivemos quando sentados em carteiras nas escolas. Saberíamos coisas desse imenso Brasil que até Deus duvida! Sem falar dos poemas que entremeavam seus textos. Sem mencionar sua fala mansa, em tom baixo, colocando um silêncio de atenção e paz na sala. Ninguém pisca. Todos se emocionam... Ou ainda editar outro livro com a vasta correspondência que teve e tem com seus amigos! Amigos escritores, presidentes, poetas, industriais, trabalhadores que tecem os fios (juta), dos vizinhos, dos atores, porque ele preza a amizade como bem maior e sabe que há que se cuidar de um amigo, aliás esse foi, é, e será o mais sábio ensinamento, a maior e melhor herança, que meus pais João Abujamra e Dinah Mattos Abujamra nos deram. Mas ele escolheu reeditar suas poesias escritas, a maior parte, à luz de velas (vó Nazira, sua mãe, fingia não ver a tênue luz da vela que custava a se apagar no quarto do Nenê quando na verdade deveria estar dormindo), e outras inspirações que chegaram quando no lombo do cavalo mascateava com meu avô Iscandar pelo interior de São Paulo, para ajudar na renda da casa. Nenê, trabalhou e ajudou a formar em faculdades seus 10 irmãos. Alguém tinha que trabalhar para que eles pudessem estudar. Ele saiu a beber e comer do mundo, o que não pode ter na escola. E o fez como ninguém. Aprendeu as lições e nenhuma ficou por partilhar. Seu amor e respeito pelo seu país, como sempre se refere ao Brasil, também nos ensinou a amar e respeitar a terra em que vivemos, tentando sempre um lugar melhor para todos, principalmente sua venerada Amazonas! Somos privilegiados, fomos alimentados pela poesia, pelas histórias e pelo inesquecível som de La Cumparista que papai tocava ao piano, quase todos os domingos pela manhã. Às vezes arriscava o violão, ambos tocados 'de ouvido'; já o escrever vinha sem cerimônia.

Fascinação traz meu pai, jovem, muito jovem, a falar de amor com palavras e estilo que marcaram sua época. Qual presente seria melhor  que esse?! Sei que aqui falo por minha mãe Dinah, sua esposa, meus irmãos Ivan, João e Lara, e todos que chegaram depois: netos, bisnetos, genros, noras e seus amigos.
Obrigada pai. Obrigada.

Clarisse Abujamra

Nascido na cidade do Óleo em 1918 fez grupo escolar na cidade de Ourinhos, ginásio, Técnico em Contabilidade, Administração em Porto Alegre e Fiação, Tecelagem e Administração Têxtil em São Paulo. Trabalhou durante mais de 50 anos no setor de fibras duras – JUTA – entre São Paulo – Manaus e Belém o que o levou à Vice-presidência do Sinditextil e da ABIT, à diretoria da FIESP e hoje membro do Conselho Superior e Estudos Avançados da FIESP/CIESP. Após a participação em 1958 da primeira FENIT com Caio de Alcântara Machado viajou por toda Europa com o objetivo de introduzir a fibra nacional no Mercado Europeu e, Ásia percorrendo Cingapura, Tailândia, Hong-Kong, Bangladesh, Calcutá, Birmânia, China e Índia para estudos no setor de fibras em favor da produção nacional. Sua vida politica começa em 1950. No PTB De São Paulo, foi suplente do vice dr. Antônio Duarte Nogueira por São Paulo na chapa para o governo de Antonio Ermirio de Moraes e candidato a vice prefeito de São Paulo. Amigo pessoal do presidente Juscelino foi o idealizador do movimento trabalhista pro Jk-65, superado pela ação militar em 1964, também amigo pessoal de presidente Jânio Quadros, o representou no CEMAS durante sua gestão. 

Sua vida profissional e politica sempre voltada aos interesses nacionais o fizeram:
Industrial têxtil do ano em 1971;
Cidadão benemérito do Amazonas;
Cidadão paulistano;
Cidadão do Pará.
Juntamente com outras 45 comendas e títulos honoríficos, vale ressaltar a comenda da cidade de Manaus, e, ordem do mérito judiciário outorgado pelo tribunal superior do trabalho.
Sua veia de poeta o fez escrever os livros:
Como a Viga que Sustenta o Telhado e Poesias 1930-1940.

Se, por fração de segundo eu fosse Deus, que Amazonas de amor eu cantaria!

Discurso pronunciado no Encerramento no Teatro Amazonas:
Cantaria pela voz do poeta emocionado, quando disse que o Brasil, “país do tamanho de um continente”, terra que é o celeiro do mundo, matando a fome e a sede de toda gente, de todo átomo, de toda a raiz, pátria amantíssima do forasteiro, do imigrante, dos sem-pátria. Céu aclarado por um luzeiro de astros iridescentes, que dão à noite a pureza do sono sem trevas, lembrando o dia de trabalho contente. Aqui nesta terra que é meu país, neste país que é a pátria dos crentes, nasceram e hão de nascer homens que são o meu orgulho de brasileiros, soldados que batalham só por amor a paz, heróis que morreram pela vida alheia, gente que lutou para conseguir aumentar a grandeza, engrandecer a pureza e purificar a beleza deste oásis da América, imenso, comprido, alto, longo, onde as mulheres caminham com passos de ave, onde os homens aprendem a cantar com os pássaros, onde tudo é esperança num futuro tão próximo, onde tudo é fé no amanhã, certeza no sim da existência vivida da história, minha história de amor à Amazônia. 
Brasil, berço das crianças e das flores, sol dos nossos filhos. Eu te juro, meu amazonas, meu Brasil, pelos túmulos dos meus mortos, pelas rugas do meu rosto, pelos meus cabelos brancos, por esta noite e este título, que te amo, que te amo. Deus vos pague, povo amazonense! É também uma homenagem aos meus pais, o mascate Candinho e minha mãe Dona Nazira, que estão nos vendo lá da mais alta montanha do Universo.

Serviço:

Fascinação
João Abujamra
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-1298-0
Formato 14 x 21 cm - 156 páginas
1ª edição - 2008

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